segunda-feira, 28 de maio de 2007

Arquitetura falante



A forma é regular, por isso mesmo falante, porque a imagem dos corpos irregulares, dos quais a natureza está repleta, é muda e estéril. A forma arquitetônica coloca-se no espaço natural como um elemento antitético, como um objeto dotado de significação própria.

Cenotáfio de Newton




O tipo não é um modelo, mas um esquema que traz em si a possibilidade de variantes segundo as necessidades contigentes. Tanto Boullée quanto Ledoux projetaram edifícios em forma de esfera, porém seu conteúdo semântico antecede a determinação funcional e simbólica, e é intrínseco à esfera como forma fechada e perfeita, como forma típica da razão e de sua centralidade em relação ao universo infinito.

A forma é pura


Para Boullée o domínio da simetria deve comportar tudo o que compraz os nossos sentidos, por isso ele defende que a forma é pura.

Na arquitetura de ilustração o princípio de proporcionalidade é substituído pelo domínio de um princípio formal e visual radicalmente novo, contrapondo a ordem de valores numérico-proporcionais e harmônicos da ordem clássica com os volumes, esse formalismo é bem diferente da ordenação geométrico-matemática da perspectiva.

A regularidade geométrica fala, enquanto o disforme é mudo



A regularidade é o que estabelece os princípios construtivos da arquitetura e, ligada a simetria, são a imagem da ordem. Para Boullée a arquitetura não é relativa ao espaço em que está inserida, mas uma forma de pensamento sobre uma natureza que está repleta de coisas informes e irracionais, por isso o pensamento que se manifesta na forma deve ser geométrico e regular.

"Tive que reconhecer que somente a regularidade poderia
dar as pessoas idéias nítidas acerca da figura dos corpos
e determinar sua denominação (...) Composta por uma
multitude de caras, todas diferentes, a figura dos corpos
irregulares (...) escapa a nosso entendimento"
(Boullée, A poesia da arquitetura, p.94)

Arte e concepção




Quando Boullée diz que arquitetura não é a arte de construir, mas a arte de conceber imagens, ele quer dizer que as imagens não provém da simples vontade, mas que são concebidas mediante pesquisas e que a busca da norma não se estabelece por normas, mas pelo processo de análise das idéias. O objeto não é o que se vê, mas a sensação que ele transmite.


"Introduzir caráter em uma obra é empregar com equidade
todos os meios próprios para fazer-nos experimentar sensações
além daquelas que devem resultar no tema" (Texto "Atquitetura
da ilustração", Prof.: Clara Miranda, p. 2)

Boullée



Boullée, juntamente com Ledoux, foram os grandes fundadores da arquitetura neoclássica, não como imitação estilística do antigo, mas como reforma radical da figura, da função, da profissão do arquiteto. Construiu pouco, mas as suas lições na Academia ajudaram a criar uma tradição arquitetônica visionária, que floresceu durante o último terço do século e nos primeiros anos seguintes. O ideal de Boullée era uma arquitetura de nobreza majestosa, um efeito que ele procurou conseguir através da combinação de grandes massas simples. A maior parte dos edifícios que projetou eram de tal escala que dificilmente poderiam ser construídos atualmente.

Étienne - Louis Boullée



Foi um arquiteto que fez contribuições significativas para o pensamento e projeto de arquitetura no século XVIII. Aluno de Blondel, aprendeu com ele as formas do classicismo francês. Com Legay aprende todo um mundo de imaginação e novas possibilidades da história. Foi como teórico e professor da École Nationale des Ponts et Chaussées , entre 1778 e 1788 que Boullée causou impacto, desenvolvendo um estilo geométrico e abstrato, inspirado nas formas clássicas. Sua característica principal foi remover toda ornamentação desnecessária , aumentando as formas geométricas para uma escala imensa e repetindo elementos como colunas de forma colossal. Boullée promoveu o conceito de fazer a arquitetura expressar seus propósitos, o que levou seus detratores a chamá-la de "architecture parlante", mas que se tornou um dos elementos essenciais da arquitetura de Belas Artes no século XIX.